
#comfiltro
Vo6 c0n$3gu3m l3r 1$$0? A image numérique, do francês vindo de Cannes, e a imagem digital, do português vindo do Brazil, é uma aglomeração numérica que se revela ou se disfarça na tela final. Imagens posterizadas e com efeitos randômicos dominam esse bloco da programação do Festivau de C4nn3$. Do simples filtro de cor até o 3D, ao ver essas imagens em movimento percebe-se uma tendência a videografismos e sons que se distorcem ou se repetem infinitamente até que acabam, mas sem ter um final. A imagem por si só já é mensagem e são os nossos olhos e ouvidos que decodificam ou tornam complexo o que é apresentado. Sabemos que tudo não passa de uma ilusão, um processo dotado de magia que nos faz ver movimento onde não há. Esse truque de mágica, cientificamente comprovado, escancara nossos cotidianos rodeados de números que são programados para nos apontarem direções de navegação pela world wide web. Sim, a queridinha internet, porque aqui e agora estamos visualizando esses trabalhos pela janela de um streaming que é acionado pelo triângulo deitado, conhecido como play.
Processos experimentais apresentam lógicas fora da lógica cotidiana de sistema, capital, linear e com morte no final. Nos trabalhos aqui apresentados, nossa vida é tédio e pesadelo, mas também festa e dança. São dramaticamente construídos para não ter uma linha dramática evidente. Aliás, não é para isso que se produz tais imagens. É para outrx. O video é uma ferramenta cheia de recursos dentro de seu programa de dispositivo ou de software de edição. Aqui há uma valorização da beleza da baixa resolução e da baixíssima qualidade de imagem que coloca o glitch como arte. A falha momentânea de um sistema é explorada em seus mistérios e numerologias. Além disso, o formato da imagem dentro do vídeo varia entre retângulos, quadrados e demais formas geométricas. O vídeo vertical nos remete às redes sociais e os filtros disponíveis. O vídeo na horizontal preenche a janela do streaming e prioriza a redução de cores e o aumento de tamanho de pixels.
#comfiltro expõe as características internas do vídeo, sem seguir padrões estéticos de beleza 4k. Com filtros se mostra do que é feita essa imagem digital que vem de outras dimensões do pensar e saber. Saberes ancestrais e conhecimentos banais se juntam numa maré invertida que nos afoga se tentarmos lutar contra ela. Que tal embarcar nessa viagem de códigos e texturas? Se deixe levar #semfiltro e descobrirá que o que você vê nem sempre é 0 m3$m0 qu3 3u v3j0. E é exatamente isso que a gente quer: dialogar sensibilidades estéticas que expõem nossas impermanências humanas.
Marina Kerber*

"Nós, do Cinema Fora de Cena, nos articulamos como um coletivo que busca novas formas de produção, distribuição e consumo do audiovisual. Através de processos lo-fi e colaborativos, diálogos entre linguagens artísticas distintas e uma pluralidade geográfica (com participantes de 4 estados diferentes do Brasil), buscamos caminhos novos no fazer e pensar do cinema. Os trabalhos abraçam uma produção e fazer orgânico ao mesmo tempo em que são norteados por certas práticas recorrentes e fortes referenciais do cinema experimental."






""EU SOU A DESTRUIÇÃO" é o prosseguimento da pesquisa que iniciei com "BRASA" (2019). A partir do discurso do ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, presente no som que é alterado para emular uma voz onipresente, crio uma contraparte ao conteúdo da sua fala no vídeo. Aproprio fragmentos de filmes, na sua maioria de origem alemã e produzidos durante as décadas de 20 e 30 e de alguns filmes norteamericanos. Com a justaposição do som e esses trechos, ressalto caráter ideológico do seu discurso que tenta se mascarar através de uma retórica apoiada nos conceitos de tradição, família, pátria e Deus. Na sequência final, ocorre uma sequência de montagem com filmes brasileiros de contextos distinto os quais alcançam uma unidade através do seu ordenamento e efeitos de edição. Através do som, esse final é introduzido como um ruído e um deslocamento. Da mesma forma durante o início as cenas de beijo são intercaladas com cenas de estranheza e violência e são sonorizadas com um trecho de All You Need Is Love em velocidade reduzida. O final opõe-se visualmente a toda construção retórica de Alvim, e assim anuncia a destruição, almejando uma catarse que se concretiza com o efeito criado entre o ritmo e conteúdo das imagens e o trabalho do som."

*Marina Kerber é multiartista e Mestra em Meios e Processos Audiovisuais pela USP. Seu trabalho como artista é explorado através das artes visuais, do teatro e do audiovisual. Neste último desempenha as funções de direção, direção de arte, animação e edição. Participou de diversos festivais com filmes como “Eu prefiro sem sementes” e “O Céu da Pandemia” (Festival de Cinema de Gramado, Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, Fantaspoa at Home, Festival Monstra, MUMIA). É membra do Coletivo Macumba Lab e ministra oficinas de animação para iniciantes.