
ATIVIDADE INQUIETA, VITALIDADE INDETERMINADA
A fuga em Escapulidinha é uma pequena escapada que não se compraz em livrar-se temporariamente de determinada situação. Um empreendimento que requer prudência no ato - escapulir neste segundo programa é, ao mesmo tempo, gesto portador de alguma vitalidade indeterminada. Uma atividade inquieta que aparece de forma fugaz – não há ponto de quietude, tampouco conjuntos de imagem-som que não sejam perturbados por forças virtuais:
Em Tempo/Corrente a fuga pode ser repetição – um amálgama temporal onde passado, presente e futuro não mais se distinguem, a sucessão repetitiva aparece enquanto produção de diferença. Do que é possível fugir ou se afastar? Não haverá de forma permanente movimento intempestivo de matéria? O tempo arrastado encontra as lentas batidas por minuto de colagem_9, onde a nostalgia presente ainda me desaloja de uma referência mais concreta sobre os momentos. Os ruídos longínquos de Janelas ressoam neste outro ritmo das memórias que se ancoram a um passado, enquanto presentificam alguma coisa, junto a uma elaboração de futuro. É impressionante como em tempos de pandemia as janelas viraram não só testemunhas do passar dos meses, como locais de elaboração de novas relações com som, imagem e o fora.
Querido Diário deflagra o suposto fluxo desterritorializado das redes - enquanto o que subsiste poderia ser uma circulação rastreável, não de cópias, mas de novos originais? Não haveria reprodução de imagem em jogo, e sim, efeitos de visualização consistindo em sempre um novo gesto performativo? Abrem-se outras fenestras, Praia Paraíso é temporariamente síntese: uma janela onde repouso a vista em tentativa de fuga ou um screen saver cuja cena me permite apaziguar. Em ambos os casos há fantasmagoria, dimensão de presença/ausência de toda superfície de inscrição.
Mais uma vez: do que é possível escapulir? Nem que seja, assim, rapidinho? Quando estou desalojada de mim ou de algo? Com(s)ciência é capaz de mais uma vez modular um tempo específico – suas ondas de sons binaurais indicam fuga como entrada em um ritmo de matérias vibratórias – espaços onde são formados outros vetores de força e temporariamente... escapo...
Daniela Avellar*
*Daniela Avellar pesquisa, escreve e dá aulas. Graduada em Psicologia e Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes, atualmente faz parte da coluna de crítica da Revista Desvio, e é uma das propositoras de um grupo de acompanhamento para artistas e ministra cursos voltados para arte e política.