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RASTROS & APETRECHOS
Das relações mais íntimas às exposições públicas de afeto com o universo urbano, com suas complexidades e com a saudade do que foi, ao assistir à Rastros & Apetrechos, senti a fobia do espaço que 2020 nos submeteu. O que é anterior ganha novo significado nesse corpo que vive a pandemia agora. A sexualidade, que sentido ganha esse espaço íntimo? Que sentido ganha o peregrino trapeiro e sua poesia em tempos de cidade vazia? O peso da crença capitalista, como se expande? Que vale o tempo do beijo, e o tempo com as plantas? A história! Que sentido aquela história tem, como ela se transforma quando a percorremos e ocupamos? E quando reprimimos ou estendemos nossas extremidade corpóreas, o que se transforma?
Rastros & Apetrechos exalta a urgência de ocupar e perceber os espaços nos quais estamos inseridos. Percorremos esquinas, lugares ocultos, íntimos, a cidade, visitamos o estado da permanência e do tédio, descobrimos a alegria do beijo público. O passeio ganha a companhia dos objetos, das pequenezas e de seres vivos inanimados que lembram nossa aspiração por sentido. A gente se transforma com eles, através deles e dependente deles para se expandir por todo nosso entorno.
Deixar marcas através de coreografias cotidianas despretensiosas é dançar seus detalhes. E quando se está isolado, a Coisa nos faz companhia e caminha com a gente. É interessante, porque os objetos são aqueles que permanecem, é a companhia fiel. São essas migalhas pelo caminho do movimento que fixa o tempo e nos auxilia a nos localizarmos em espaços alterados. Rastros & Apetrechos são manifestações de memórias corporificadas, é a rotina performática e a exaltação do banal.
Elissa de Brito*
*Formada em realização audiovisual pela UNISINOS (São Leopoldo/BR), em 2019 obteve seu mestrado em Film Studies pela Universidade Livre de Berlin (Freie Universität Berlin/DE). É artista audiovisual, bailarina e pesquisadora. Explora o universo da percepção sensorial e suas ferramentas de expressão artística e social, em parcerias interdisciplinares principalmente na dança. É cofundadora do coletivo artístico Zeegotoh e.V. em Berlim e desenvolve projetos independentes com projeções e exposições na capital alemã. Sua última participação em 2020 ocorreu no Festival Dystopie Sound Art Festival, com seu trabalho de video-performance E Daí!?, em parceria com Mariana Bahia (artista sonora). Mais infos: elissadebrito.com.
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